12 March 2008 | 16.00 | ISCAP
ABSTRACT
O trânsito entre a Universidade de São Paulo e as instituições de ensino superior em Portugal, no âmbito de uma investigação das Letras, traz à superfície temas delicados tais como o respeito ao universo dos estudantes, a valorização da literatura e da mulher artista.
A forma de justificar aos académicos portugueses a escolha da estigmatizada freira de Beja Mariana Alcoforado, para objecto de análise, consiste em traçar um quadro comparativo com Juana Inés de la Cruz, a outra mulher contemplada no projecto de Doutoramento da conferencista. Será ocasião para debatermos também o género epistolar, as mulheres que decidiram debruçar-se sobre a biografia e a experiência das duas religiosas, a transcendência possível a partir das obras seiscentistas, enfim.
As relações temporais, espaciais e temáticas entre as culturas têm o poder de nos pôr em movimento no interior da cultura que vivemos. As linhas que unem um contexto a outro desenham um caminho até onde estamos e, assim, estão a levar luz nova sobre o que vínhamos mantendo numa área de sombras, em função de resistência em nos vermos ao espelho. Nesse sentido, os transportes de Mariana Alcoforado revivem graças à nossa força e reciprocamente dão-nos vigor, produzem em nós desejo de arrebatamento. A cumplicidade de Juana Inés de la Cruz com os censores que reconheceram nela uma inteligência prodigiosa aponta para os meandros da política de outrora e ao mesmo tempo apela para que saibamos o que em nós reforça os mecanismos de coerção no âmbito das manifestações artísticas actuais. Culturas convergem, formas conversam para uma percepção mais alargada de quem somos, afinal, nesta incessante busca por sentido e por laços.