12 June 2015 | 11.00 | ISCAP
PROGRAM
11.00 – Sessão de Abertura: Ana Paula Guimarães (IELT, FCSH-UNL) – Eco-Economia e tradições populares.
11.30 – Clara Sarmento (IELT e CEI, ISCAP) – A Economia das Tradições: O Caso da Ria de Aveiro.
12.00 – Manuela Veloso (IELT, ILCML e CEI, ISCAP) – Apresentação do Projecto “Economia, Direito e Cultura”
12.30 – Maria Elisabete Ramos (Fac. Economia, Univ. Coimbra) – Entre Lei, Economia e Cultura: A convergência da Civil Law e da Common Law.
Pausa para almoço.
14.00 – Adérito Araújo (Fac. Ciências e Tecnologia, Univ. Coimbra) – O mecanismo de trocas altruístas num mundo competitivo.
14.30 – Paulo Vasconcelos (ISCAP) – A contabilidade como estrutura de comunicação.
15.00 – Sara Cerqueira Pascoal (IELT e CEI, ISCAP) – O dilema da Eco economia: uma abordagem semiótico-cultural das estratégias visuais de responsabilidade social das marcas de luxo.
15.30 – Sandrina Teixeira (ISCAP) – O contributo dos eventos culturais na construção da identidade de uma cidade.
16.00 – Carlos Clamote Carreto (Univ. Aberta e IELT) – O poeta usurário: economia mercantil e modelos narrativos na Idade Média.
16.30 – Carlos Augusto Ribeiro (IELT, FCSH-UNL) – Vender, Trocar, Doar, Roubar e Especular em Contos Populares Portugueses de Adolfo Coelho.
Debate e Encerramento.
Sessão de Abertura – Eco-Economia e tradições populares
Ana Paula Guimarães (IELT, FCSH-UNL)
Recorrendo à cultura inscrita nas memórias e frequentemente hoje reavivada por cantos e contos, damos por nós repetindo face aos mais pequenos… “era uma vez”. Sem verbas, só verbos.
Ana Paula Guimarães é Professora Associada da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa. Doutoramento em Estudos Portugueses, especialidade de Literatura Oral e Tradicional. Criou e dirige o Instituto de Estudos de Literatura Tradicional (IELT) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (avaliação FCT: EXCELENTE – 2003, 2008). PUBLICAÇÕES: Olhos, Coração e Mãos no Cancioneiro Popular Português, prefácio de José Mattoso. Lisboa, Círculo de Leitores, Janeiro 1993 (esgotado). Abecedoria do Coração – Arte de Bem Viver no Cancioneiro Popular Português (com António Goetze Piano). Lisboa, Vega, 1994. Nós de Vozes – Acerca da Tradição Popular Portuguesa (prefácio de Teresa Rita Lopes). Lisboa, Colibri, 2000 (esgotado); 2ª ed. Lisboa, Colibri/IELT, 2007. Cuidar da Criação – Galinhas, galos, frangos e pintos da tradição popular portuguesa (prefácio de José Augusto Mourão). Lisboa, Apenas Livros, 2002; Lisboa, Círculo de Leitores, 2005. Este trabalho foi distinguido com uma menção honrosa pelas Organizações Não Governamentais do Conselho Consultivo da Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, em 2001. As Estrelas Acessíveis – José de Almada-Negreiros: o corpo em palestra (com Carlos Augusto Ribeiro). Lisboa, Apenas Livros/IELT, 2004. Falas da Terra – Natureza e Ambiente na Tradição Popular Portuguesa (com João Barbosa e Luís Cancela da Fonseca). Lisboa, Colibri/IELT, 2004. Artes de Cura e Espanta Males – Espólio de Medicina Popular recolhido por Michel Giacometti (coord. Ana Gomes de Almeida, Ana Paula Guimarães, Miguel Magalhães). Lisboa, Gradiva, 2009; 2ª ed. 2011. Contas X Contos X Cantos e que + Cumplicidades entre Literatura e Matemática. Lisboa, Gradiva, 2012. COLECÇÕES dirigidas por Ana Paula Guimarães: “A IELTsar se vai ao longe”. Lisboa, Colibri/IELT, desde 2003 (30 volumes); “À mão de respigar – Folhetos à maneira de quem pendurava a vida a cavalo num barbante”; “Bilhetes de Identidade – Emitidos por quem os conhece de ginjeira, os B.I. dos Bichos e Quejandos revelam-nos quem somos e ao que andamos”.
A Economia das Tradições: O Caso da Ria de Aveiro
Clara Sarmento (CEI – ISCAP e IELT)
O barco moliceiro da Ria de Aveiro e seus painéis polícromos pintados, de traço popular, inserem-se numa complexa estrutura simbólica, resultante de um longo processo de negociação identitária moldado pelos acontecimentos políticos, sociais e económicos do Portugal dos séculos XX e XXI. Nessa estrutura enquadram-se a invenção dos concursos de painéis e a reinvenção das festividades da Ria e da cidade de Aveiro, com toda a supervisão e intervenção das instituições políticas e económicas sobre esta prática originalmente popular. Estas – e outras – “tradições folclóricas” existentes em torno do barco moliceiro são construídas de raiz por entidades de elite ou institucionais, originando eventos e objectos para consumo turístico externo, tanto directo como simbólico, sempre em busca de benefícios políticos e económicos.
As regatas e concursos de painéis de barcos moliceiros, ao contrário do que a retórica oficial fazia (e faz ainda) supor, são uma tradição artificial, criada em pleno século XX e amplamente continuada no século XXI pelas autoridades locais, e que apenas faz uso restrito do elemento popular-folclórico. Este tem como função construir o objecto, submetê-lo à avaliação superior e aceitar reconhecidamente a recompensa devida à sua participação no ritual. Por sua vez, o público visado é menos a comunidade local, do que as entidades públicas e privadas convidadas, a imprensa, os turistas nacionais e estrangeiros e… o lucro. . .
Clara Sarmento é Doutorada em Cultura Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Professora Coordenadora com tenure no Instituto Politécnico do Porto, onde dirige o Mestrado em Tradução e Interpretação Especializadas e o Centro de Estudos Interculturais. Vencedora do “American Club of Lisbon Award for Academic Merit”, visiting scholar na Brown University, EUA, e vencedora do Prémio CES, Universidade de Coimbra, para Jovens Cientistas Sociais de Língua Oficial Portuguesa. Autora de numerosos livros, ensaios e conferências em Portugal e no estrangeiro, nas áreas da Literatura e Cultura Anglo-Americana e Portuguesa, Etnografia, Estudos Culturais e Interculturais e Estudos de Género.
Apresentação do Projecto “Economia, Direito e Cultura”
Manuela Veloso (IELT, CEI – ISCAP e ILCML)
No intuito de observar os sistemas epistémicos vigorantes através da Arte, este projecto pretende pôr em evidência a incontornabilidade do preenchimento cultural das estruturas sociais, nas suas dimensões diacrónica e sincrónica. Em 2000, no seu livro A Europa Desencantada, Eduardo Lourenço adverte: “Íamos para o futuro, não vínhamos dele. Agora estamos nele e é dele que vimos”. Somos, portanto “só quase esse futuro que ainda não somos, senão como aventura virtual”.
Através do olhar da literatura, do cinema, enfim, das artes performativas e visuais, propõe-se angariar casos de estudo, conduzi-los para uma base de dados simplificada e em constante construção por alunos das nossas licenciaturas, alunos do programa Erasmus, mestrandos, docentes, investigadores e todos os que tenham interesse neste tema e na sua transversalidade.
Estando criadas as condições de observação dos fenómenos focados pela tríade Economia-Direito-Cultura, passa-se a: (1) analisar o tratamento de fenómenos económico-financeiros, bem assim como ocorrências jurídicas e legais, adoptando uma metodologia comparatista que introduza a variável das Emoções; (2) testar/simular a formulação de novos enunciados epistemológicos que assentem na reinserção das culturas e da cultura nas configurações económicas e jurídicas; (3) descobrir como atingir a proporcionalidade da riqueza material e do capital imaterial. Sustentar-se-iam, a partir dos pressupostos e fundamentos estudados, novas possibilidades hermenêuticas da matriz reguladora da organização das sociedades.
Manuela Veloso é Doutorada em Literatura Comparada (2008) e Professora Adjunta no ISCAP/Instituto Politécnico do Porto, lecionando Tradução Técnica e Literária (Alemão/Inglês – Português). Com particular incisão nas questões da auto-tradução e da dupla-vocação na escrita e na pintura, bem como da confluência da teoria e da criação artísticas num mesmo autor, tem publicado diversos artigos em revistas nacionais e estrangeiras, abordando a intermedialidade da Identidade no Modernismo Europeu, embrionário de novas possibilidades percetuais na exegese textual e socio-ambiental, de um ponto de vista cinestésico e transindividual, em interface com uma semiótica global.
Entre Lei, Economia e Cultura: A convergência da Civil Law e da Common Law
Maria Elisabete Gomes Ramos (Faculdade de Economia de Coimbra)
A presente comunicação abordará as diferenças e as convergências entre sistemas de civil law e de common law. Far-se-á uma breve aproximação às condições culturais e históricas que propiciaram a formação e a evolução de cada um destes sistemas. São conhecidos os movimentos de aproximação entre civil law e common law. Por um lado, reforça-se a importância do direito legislado no common law e, por outro, nos sistemas de civil law é aceite que o juiz não se confina ao papel da «boca que pronuncia as palavras da lei» (Montesquieu).
É patente no civil law a influência de institutos criados no common law. Considerem-se, a título de exemplo, a business judgment rule, class actions, D&O Insurance, duty of care e duty of loyalty, corporate indemnification.
Há quem profetize a «americanização do direito» e também quem tenha refletido sobre os «legal transplants». Nenhum destes conceitos é consensualmente aceite. Os economistas falam em «path dependence». Na verdade, «history matters» e, por conseguinte, haverá sempre resistências na importação e enxerto na nossa ordem jurídica de conceitos e institutos jurídicos oriundos dos sistemas de common law.
Maria Elisabete Gomes Ramos é Doutorada em Direito, na área das Ciências Jurídico-Empresariais, pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Exerce atualmente as funções de Professora Auxiliar da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. É autora de livros e de artigos publicados em revistas jurídicas nacionais e internacionais. É autora do livro O seguro de responsabilidade civil dos administradores. Entre a exposição ao risco e a delimitação da cobertura, Coimbra: Almedina, 2010, que corresponde à sua tese de doutoramento. É co-autora dos Estudos de direito das sociedades, 11ª ed., Coimbra: Almedina, 2013. É autora e co-autora de comentários integrados em vários volumes do Código das Sociedades Comerciais em comentário, coordenado por J. M. Coutinho de Abreu, e publicado pela Almedina (2010-2015). Com a Doutora Deolinda Aparício Meira elaborou o relatório «European Social Business Initiative: Member State Legal and Regulatory Profile – Portugal» (2013), preparado para a Comissão Europeia. No âmbito do CNES (Conselho Nacional para a Economia Social) integrou a Comissão Redatorial para a Revisão do regime do setor cooperativo, na qualidade de perita designada pela Confecoop. É membro da Comissão de Aconselhamento Científico do CEI – Centro de Estudos Interculturais – ISCAP. É investigadora do Centro de Estudos Cooperativos e da Economia Social de Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. É membro do Conselho Científico da AIDA Portugal.
O mecanismo de trocas altruístas num mundo competitivo
Adérito Araújo (Fac. Ciências e Tecnologia, Univ. Coimbra)
A teoria dos jogos tem por objecto o estudo da decisão social. Alicerçada em sólidas bases matemáticas, a disciplina tem sido utilizada em economia e outras ciências sociais para estudar, entre outras coisas, o binómio cooperação-competição. Por que valorizamos justiça e a cooperação em detrimento do (aparentemente mais racional) egoísmo? O comportamento dos seres humanos revela que, em muitas situações, tendemos a ser mais generosos do que seria previsto pelos modelos económicos tradicionais baseados no pressuposto que as pessoas procuram, egoisticamente, maximizar os seus lucros. Ser á que as ideias de evolução do comportamento ético tem alguma relevância na compreensão do comportamento humano? Ao longo desta sessão, mais do que procurar respostas definitivas, iremos desvendar pistas e caminhos por campos tão diversos como a matemática, a biologia ou a etnografia.
Adérito Araújo, doutorado em Matemática Aplicada, é professor Auxiliar no Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Desenvolve investigação no Centro de Matemática da Universidade de Coimbra onde também dirige o Laboratório de Matemática Computacional. É director da Gazeta de Matemática, uma publicação da Sociedade Portuguesa de Matemática e o representante português no Conselho do ECMI (European Consortium for Mathematics and Industry), instituição que tem como fim promover a ligação entre a Matemática e a Indústria.
A contabilidade como estrutura de comunicação
Paulo Vasconcelos (ISCAP)
Partindo da noção de empresa como organização de fatores produtivos, inserida no mercado, procurar-se-á fundamentar a ideia de que a empresa não é concebível sem escrita, isto é, sem contabilidade.
Às necessidades de organização interna acrescem as de comunicação com o meio em que a empresa vive. Nestes termos, a contabilidade assume-se como um meio privilegiado de comunicação, que utiliza uma linguagem própria, de acordo com os fins que pretende alcançar e que é condicionada pelo meio cultural em que se insere e do qual não se pode alhear.
Atenta esta realidade, a escrita não é só uma necessidade, mas também uma obrigação jurídico-comercial. As normas contabilísticas são, deste modo, também normas jurídicas, isto é, dotadas de obrigatoriedade, generalidade e coercibilidade.
Estamos, deste modo, perante uma linguagem estruturada por normativos essencialmente jurídicos, os quais não deixam de incorporar conceitos técnicos, convocando assim um diálogo entre diferentes saberes e linguagens.
Paulo Alves de Sousa de Vasconcelos é licenciado em Direito, pelo Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa, 1990. Mestre em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, em 1998 (Ciências Jurídico-Empresariais). Doutor em Direito, pela Universidade de Vigo, Espanha, 2014. Advogado, desde 1992. Professor Coordenador, da área científica de Direito, do Instituto Superior de Contabilidade e Administração, do Instituto Politécnico do Porto. Investigação em Direito Societário; Capital Social; Apuramento e aplicação de resultados.
O dilema da Eco economia: uma abordagem semiótico-cultural das estratégias visuais de responsabilidade social das marcas de luxo
Sara Cerqueira Pascoal (IELT e CEI – ISCAP)
A marca é um complexo sistema de fenómenos de natureza eminentemente semiótica. Na verdade, uma marca é um signo que os consumidores integram no seu espaço pessoal para melhorar, complementar ou transformar o seu mundo. Um signo que, aliando um significante a um amplo sistema de significados, gera efeitos diferentes nas pessoas. Os estudos semióticos já nos demonstraram como “os signos podem ser usados para condicionar comportamentos e ações tanto próprios como alheios. (FIDALGO, 1998). A Eco economia, um conceito cunhado por Lester Brown em 1980, sustenta o imperativo de “uma economia ambientalmente sustentável – uma eco economia – “em que “os princípios da ecologia estabeleçam o arcabouço para a formulação de políticas económicas e que economistas e ecólogos trabalhem, em conjunto, para modelar a nova economia” (LESTER BROWN, 2001).
Nos últimos anos, as preocupações das empresas com uma economia sustentável, o discurso de responsabilidade social e ambiental, tem marcado as estratégias de comunicação da maioria das marcas, reforçando a sua credibilidade junto dos consumidores, insistindo na transparência ética, isotopia que subjaz às imagens e discursos das marcas. Ao contrário das chamadas marcas de fast-fashion, a maioria das marcas de luxo tem ignorado ou menosprezado a comunicação de preocupações éticas ou ambientais. Pesquisas recentes (TORELLI et all., 2012) demonstraram que alguns signos associados às marcas de luxo podem entrar em conflito com os signos e significações do discurso de responsabilidade social empresarial, originando disfluências e perturbando as perceções que os consumidores têm das marcas.
Nesta comunicação, apresentamos uma análise do discurso de responsabilidade social de algumas marcas de luxo e procedemos a uma abordagem semiótica das estratégias de retórica visual utilizadas, tentando perceber como os signos associados às marcas podem influenciar a decisão sobre o uso ou não de um discurso de sustentabilidade. O presente estudo analisará algumas mensagens e sentidos negativos associados à comunicação de responsabilidade social e ambiental levada a cabo por certas marcas de luxo e refletirá sobre a necessidade de um cuidadoso e profundo conhecimento dos signos associados às marcas para a decisão estratégica de se usar ou não um discurso de responsabilidade ambiental e social.
Sara Cerqueira Pascoal é docente no ISCAP desde 1997. É Doutorada em Línguas e Literaturas Românicas, Mestre em Cultura Portuguesa e licenciada em Línguas e Literaturas Modernas (Português/Francês). Presentemente, desenvolve investigação no âmbito da Literatura Portuguesa de Viagens do século XIX, numa abordagem geográfica dos textos. Os seus interesses de investigação incluem a Retórica Visual, a Semiótica, a Comunicação Intercultural e a Cultura Portuguesa.
Contributos dos eventos culturais na construção da identidade de uma cidade
Sandrina Teixeira (ISCAP)
As cidades têm bastante dificuldade em atrair residentes, turistas bem como investimentos. A vertente cultural das cidades deve contribuir para a construção e reconstrução das suas identidades. As cidades moldam e moldam-se aos que com elas interagem. As pessoas esperam emocionar-se, experienciar e assimilar o autêntico, o que é distintivo e único. A identidade é fonte mas também significado. As pessoas que vivem numa cidade ou a visitam precisam de compreender a sua significação particular e a cultura é um factor importante neste processo de dar sentido às coisas. O objectivo desta comunicação é apresentar uma reflexão sobre o papel dos recursos culturais e em especial dos eventos na construção da identidade de uma cidade.
Sandrina Teixeira é doutorada em Comunicação, Publicidade e Relações Públicas pela Universidade de Vigo, diretora do Mestrado em Marketing Digital e da Licenciatura em Comunicação Empresarial, é docente no ISCAP – IPP das áreas de Marketing, Comunicação e Publicidade. É coautora de livros e tem publicado os seus trabalhos de investigação nas áreas do comportamento do consumidor, marcas de moda e de luxo, tribos urbanas e identidade das marcas.
O poeta usurário: economia mercantil e modelos narrativos na Idade Média
Carlos F. Clamote Carreto (Universidade Aberta e IELT)
É surpreendente a riqueza e a complexidade do pensamento económico desenvolvido pelos teólogos e moralistas da Baixa Idade Média e mais surpreendente ainda a radical inversão semântica sofrida pelo conceito diabólico de usura ao deslocar-se da esfera da corrupção mortífera para o da criação espiritual e intelectual. Transparecendo tando no panegírico inaugural de Chrétien de Troyes a Filipe de Flandres no célebre Conte du Graal como no prólogo dos Lais de Marie de France e do Roman de Silence de Heldris de Cornouailles ou ainda no insólito diálogo entre o Diabo (disfarçado de donzela) e Perceval na Queste del Saint Graal (107, 1-3), entre muitos outros exemplos possíveis, esta reconversão exegética da usura acaba por constituir um poderoso factor de legitimação da palavra poética entendida simultaneamente como fértil multiplicação do sentido aprisionado/dissimulado na letra do conto e apelo a uma hermenêutica implicando simultaneamente a actividade interpretativa do leitor e a generosidade financeira do mecenas ou comendatários da obra. Além de um eloquente sinal desses novos tempos em que a visão urbana e mercantil do universo reconfigura profundamente a natureza simbólica das transações, tanto linguísticas como materiais, que regrem as relações com o Outro e o Outro-Mundo, o imaginário económico introduz igualmente importantes transformações da conceção da própria palavra poética constantemente sujeita às profundas ambivalências do acto de contar.
Doutorado em Ciências Humanas e Sociais, especialidade de Literatura Francesa Medieval, Carlos F. Clamote Carreto é Professor Auxiliar da Universidade Aberta onde desempenha igualmente as funções de Diretor do Departamento de Humanidades e de membro do Conselho geral. Foi professor convidado da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade Autónoma do México e da Universidade Stendhal | Grenoble 3, sendo atualmente membro integrado e subcoordenador científico do IELT, membro colaborador do Instituto de Estudos Medievais (FCSH da UNL), do GRIS-France e investigador associado do Centre de Recherches sur l’Imaginaire da Universidade Stendhal | Grenoble 3. Pertencendo a várias associações nacionais e internacionais ligadas aos Estudos Franceses, aos Estudos Medievais e aos Estudos sobre o Imaginário, é também membro fundador e membro da comissão de redação da revista interdisciplinar luso-francesa Sigila e codirector dos Cadernos do CEIL. Revista Multidisciplinar de Estudos sobre o Imaginário. Centrada na literatura medieval, a sua investigação tem procurado questionar as relações dinâmicas entre o imaginário cultural dos séculos XII e XIII as renovadas conceções, representações e práticas da escrita desenvolvidas durante esse período. Neste âmbito, publicou recentemente o ensaio “Contez vous qui savez de nombre…“ Imaginaire marchand et économie du récit au Moyen Âge (Paris, Éditions Honoré Champion, 2014).
Vender, Trocar, Doar, Roubar e Especular em Contos Populares Portugueses de Adolfo Coelho
Carlos Augusto Ribeiro (IELT, FCSH-UNL)
Na colectânea Contos Populares Portugueses de Adolfo Coelho, há uma diversidade de funções atribuídas ao dinheiro (ou às suas formas): prémio, recompensa, remuneração, dádiva, empréstimo, achado, mas também, espólio obtido por saque, extorsão e usurpação. Enquanto instrumento crucial de superação de uma condição de fome e pobreza ou possibilidade de libertação social, o dinheiro (fonte de grandes fortunas) encontra-se distribuído de forma desigual: abundante no rico e no poderoso; escasso nos pobres e nos esfomeados. Porém, ter dinheiro e não distribuí-lo, tê-lo e recusar-se a dividi-lo ou a partilhá-lo com os pobres (acto misericordioso), é o mesmo que condenar-se ao desastre e ao infortúnio. O dinheiro é um meio (e não um fim) em prol do bem e da justiça; um valor secundário por relação ao amor. Talvez a afirmação inequívoca do valor instrumental do dinheiro (meio de pagamento e medida de valor), se encontre naquelas histórias em que é patente uma certa tolerância perante a atitude daqueles que, necessitados, recorrem à estratégia de enganar quem o tem em abundância e o quer acumular e conservar unicamente para si; usam a mentira como meio de sustento (ou de enriquecimento próprio), explorando a credulidade do povo. Ou, ainda, perante a atitude daqueles que, não dispondo de uma outra solução para saldar um tributo, usam a mentira, em resposta ao desafio de um credor que, incauta e temerariamente, admite a mentira (a patranha) como forma de pagamento e perdão da dívida.
Tendo em consideração o exposto, a nossa análise centrar-se-á em quatro contos: «O Coelho e o Gato», «O Rabo do Gato», «Os Dois Mentirosos» e «O Ovo Partido».
Carlos Augusto Ribeiro é investigador/artista plástico, Doutorado em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa com a tese Não Estamos Sós Sob a Pele – Uma Exposição Possível Acerca de Duplos. Autor de textos sobre arte contemporânea em cruzamento com outros domínios disciplinares (literatura e ciências da comunicação) e temas (corpo, imagem, tecnologia, ambiente, paisagem, arte e medicina populares). Tem actividade no domínio das artes plásticas: exposições, capas de livros e ensaios visuais integrados em livros. Tem leccionado Artes Plásticas (Ar.Co, Fórum Dança e ESAD-CR). Autor de opção transdisciplinar Duplo nas Artes (ESAD-CR) ou Cópias, Duplos, Máscaras e Clones na Arte e na Literatura (curso de verão na FCSH-Universidade Nova de Lisboa) e co-criador de curso livre Todas as Artes Contam – Intersecções: Conto, Pintura e Cinema (FCSH-Universidade Nova de Lisboa)