2 de Dezembro de 2015 | 15.00 | ISCAP
“Open Data: Um paradigma de empoderamento da sociedade”,
Ana Alice Baptista (Centro Algoritmi, Escola de Engenharia, Univ. Minho)
No sítio Web da Open Knowledge Foundation, desafia-se o leitor a perceber como os dados podem mudar o mundo: o conhecimento “empodera” muitos e não apenas alguns; os dados abrem novas perspectivas de forma a fazerem-se “escolhas informadas sobre como vivemos, o que compramos e quem obtém o nosso voto”. Os dados poderão ser relacionados, permitindo a todos comparar cenários, antever realidades, criar e defender visões de longo prazo. Será um mundo em que é devolvido poder ao cidadão: o poder de discernir e julgar, o poder de efetuar escolhas informadas. Abrem-se novas perspetivas de envolvimento, participação, contributo e cidadania. Será, em suma, um mundo mais democrático. Atualmente existem esforços de estruturas governamentais de vários países para disponibilizar dados abertos. Os incentivos e as medidas de apoio multiplicam-se. Contudo, na maioria dos casos, pouco ou nada se pode fazer com estes dados. Para que, realmente, pudéssemos obter a informação de que necessitamos para melhor discernirmos e fazermos escolhas informadas, necessitaríamos de poder relacionar dados de diversas fontes e visualizar os resultados de forma simples. Por exemplo, ainda é difícil comparar de forma simples os dados sobre os diversos serviços nacionais de saúde ou de educação. Seria também interessante, por exemplo, poder comparar parâmetros relativos à qualidade de vida em diversas cidades. Ou, outro exemplo, ter dados em tempo real sobre catástrofes ecológicas e poder relacioná-los com dados estatísticos sobre investimentos governamentais na prevenção de tais catástrofes, ou com legislação específica sobre estas matérias. Estes exemplos são apenas pequenas amostras do que será possível fazer com dados abertos disponibilizados nos formatos adequados e obedecendo a normas específicas. Havendo ainda questões de cariz tecnológico a resolver, esta é essencialmente uma questão de definição e adopção de políticas de abertura de dados por diferentes organismos da sociedade: entidades governamentais, instituições públicas, empresas, IPSS, entre outras. Desafia-se, assim, estes organismos a considerarem a possibilidade de abrir alguns dos seus dados e, em consequência, a procederem a uma cuidadosa e informada definição de políticas de dados abertos.
Ana Alice Baptista é professora no Departamento de Sistemas de Informação e investigadora no centro ALGORITMI, ambos da Universidade do Minho. Licenciou-se em Engª de Sistemas e Informática, tem mestrado em Informática de gestão e doutoramento em Tecnologias e Sistemas de Informação. É membro do Steering Committee do Advisory Board da Dublin Core Metadata Initiative (DCMI) e co-coordena o DCMI Education & Outreach Committee (DC-EOC). É também membro da comissão executiva da série de conferências Elpub. Participou em vários projetos de I&D e foi avaliadora de propostas de projectos no âmbito do FP7. É autora ou co-autora de mais de 50 artigos científicos e as suas áreas principais de interesse incluem Metadados, Linked Open Data e o movimento Open em geral. Informação adicional: http://www.dsi.uminho.pt/~analice
“O novo paradigma “dados ligados na web”:
Um potenciador de ligações culturais”, Mariana Curado Malta (CEISE – ISCAP)
Metadados são dados que descrevem “coisas” tangíveis ou intangíveis existentes na vida real. Às coisas damos o nome de recursos. Os metadados são dados, informação portanto sobre recursos que nos interessa descrever, como um livro ou uma organização ou uma compra que foi efectuada. Os dados (ou metadados) ligados da Web representam um gráfico gigante global na Web, o conjunto global destes dados ligados é chamado de Web de Dados. Este termo é utilizado por oposição à Web de Documentos, a Web que utilizamos todos os dias. A Web de Documentos é feita de documentos lidos por humanos que navegam entre documentos e servidores utilizando hiperligações. A Web de Dados é feita de dados estruturados lidos por agentes que navegam entre dados estruturados e servidores utilizando ligações existentes. Estas duas Webs/representações da Web vivem lado a lado e não se substituem uma à outra, em vez disso, existem com diferentes objectivos e são, pelo menos parcialmente, complementares. De forma a que o significado seja partilhado por várias aplicações, os dados estruturados têm de ser sintáctica e semanticamente interoperáveis. Os dados estruturados interoperáveis disponíveis na Web podem ser usados pelas organizações para tornar a sua informação mais visível em termos de SEO. As organizações podem ainda partilhar os seus dados entre parceiros de negócio e fornecer esses dados a terceiros, de forma a construir uma Web mais inteligente, abrindo novos caminhos de empoderamento. As organizações podem criar aplicações que usem esses dados, que infiram relacionamentos e extraiam significado dos dados das relações existentes ou de outras entretanto criadas ou inferidas.
Para colocar esses dados na Web de Dados é necessário todo um processo de desenvolvimento complexo que passa, entre outras coisas, por uma modelação da realidade, a modelação semântica. Esta modelação faz o levantamento dos recursos da realidade que queremos descrever e das suas características. Segue-se depois um processo de encontrar termos em esquemas de metadados ou vocabulários RDF que descrevam o mais apropriadamente possível o que as características representam. Estes vocabulários representam conceitos, e são desenvolvidos por toda a comunidade mundial de metadados. Este processo tem a preocupação de usar o que já existe, nunca tentando “re-inventar a roda”, isto é, usando prioritariamente os vocabulário RDF já existentes. O desenvolvimento necessário para colocar os dados na Web de dados é feito num ambiente completamente aberto, frequentemente comunidades de pessoas de diferentes idiomas, culturas, realidades organizativas, todo uma babilónia que trabalha no sentido de colocar os dados a “conversar” sem actuação humana, isto é, de uma forma “interoperável”.
Esta sessão tem como objectivo abrir uma porta para este mundo da Web de Dados e dos seus vocabulários, explicando como isso pode ser potenciador de interligação de culturas, colocando culturas diferentes a conversar com um objectivo comum.
Mariana Curado Malta é Engenheira Electrotécnica e de Computadores (FEUP) e Mestre em Informática Industrial (ENIB/França). Doutorou-se em 2014 em Sistemas e Tecnologias da Informação (UMinho), com especialização na Web Semântica e modelação semântica. É Prof Adjunta no ISCAP, trabalhando nesta instituição desde 1998, e investigadora no CEISE e no Centro Algoritmi da UMinho. Anteriormente leccionou na Universidade Católica, onde começou a sua carreira como docente. Interessa-se por tópicos relacionados com metadados, Web semântica, modelação semântica, dados ligados na Web, perfis de aplicação e métodos para o desenvolvimento de perfis de aplicação. Empenha-se na entrada no paradigma dos dados ligados por parte da comunidade mundial de Economia Social e Solidária, participando recentemente num projecto para a criação e desenvolvimento de instrumentos para possibilitar esse acesso. É autora de vários artigos científicos e de capítulos em livros. Neste momento tem como projecto a co-edição de um livro, publicado pela IGI, sobre o desenvolvimento de esquemas de metadados e de perfis de aplicação. Ver mais em http://maltas.org