Conferência “Pela Espanha Alheia: Espaços Vividos, Espaços Ficcionados”, Sara Pascoal (CEI, ISCAP) | 13 de Março de 2015

13 de Março de 2015 | 16.00 | ISCAP

RESUMO

Se é verdade que a Literatura tem estabelecido relações metodológicas com outras Ciências Humanas e Sociais, como a História, a Sociologia, a Filosofia, a Antropologia ou a Psicologia, que têm redundado em frutuosas revelações, já as suas relações com a Geografia são tímidas e por vezes relutantes. A despeito das brilhantes intuições dos nossos primeiros geógrafos – Amorim Girão ou Orlando Ribeiro – que cedo mediram o valor das relações entre geografia e literatura, em Portugal, são ainda muito parcos os estudos que usam fontes literárias na reconstituição do saber geográfico. Há, no entanto, algumas contribuições, que seguem a esteira de investigadores estrangeiros, como Tuan, Pocock, Moretti, Chevalier, Bailly, entre outros, e sobretudo de grupos de investigação, como o Grupo de História do Pensamento Geográfico. Recentemente, em Portugal, o uso de fontes literárias na análise geográfica tem sido efetuado por investigadores como Fernanda Cravidão, Rui Jacinto e João Carlos Garcia ou Francisco Choupina. Já da parte da Literatura, as relações têm sido menos frequentes e pouco ousadas. A presente comunicação, intitulada “Pela Espanha alheia. Espaços vividos espaços ficcionados”, pretende situar-se na encruzilhada da Literatura Comparada e da Geografia da perceção, adotando uma metodologia geocrítica. Partindo de um corpus heterogéneo de cerca de 10 relatos de viagem de autores portugueses a Espanha, tendo por barreira cronológica a segunda metade do século XIX, intenta este estudo reconstruir o espaço percorrido por esses autores; espaço real que configura uma viagem real, mas também, espaço literariamente construído, rememorado ou ficcionado. Fundamentando-se numa análise desconstrutivista do discurso, a partir de tabelas onde se isolam topónimos, cronologia, referências literárias implícitas ou explícitas, fatores geográficos (dados sobre povoamento, clima, paisagem, relevo, recursos económicos, sectores de atividade, rede fluvial…), este estudo cruza aquilo que é o espaço vivido, real, com o espaço ficcionado para construir a cartografia temática que servirá de base às intuições fundamentais das características da viagem a Espanha na segunda metade de Oitocentos, nomeadamente, o perfil do viajante, a organização da viagem, os meios de transporte, os roteiros de viagem por Espanha, bem como temários fundamentais do relato de viagem por Espanha (a mulher espanhola, a arte, a tauromaquia, a questão ibérica, etc). Esta reconstituição dos espaços pretende contribuir, finalmente, para a compreender qual o papel da literatura de viagens portuguesa na formação da identidade espanhola e na delimitação do que o country branding e o turismo cultural hoje designam por “marca Espanha”.

Nota biográfica

Sara Cerqueira Pascoal é docente no ISCAP desde 1997. É Doutorada em Línguas e Literaturas Românicas, Mestre em Cultura Portuguesa e Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas (Português/Francês). Presentemente, desenvolve investigação no âmbito da Literatura Portuguesa de Viagens do século XIX, numa abordagem geocrítica dos textos. Os seus interesses de investigação incluem a Retórica Visual, a Semiótica, a Comunicação Intercultural e a Cultura Portuguesa.


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